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O texto de Lucas nos mostra a disposição de Pedro em seguir Jesus até a morte e a conseqüente realidade: quando veio a perseguição, Pedro não fez aquilo que prometeu fazer.
Antes de nos apressarmos em condenar esse personagem que, mais tarde, foi considerado o principal líder da igreja em Jerusalém, é importante que nos identifiquemos com ele. Prometer e não cumprir faz parte do nosso dia a dia; quantas vezes nos dispomos a não mentir, não falar mal das pessoas, não ser pessimista, não ser desonesto e não cobiçar a mulher (ou o homem, o carro, a posição social, a habilidade, o prestígio) do próximo, mas algum tempo depois percebemos que falhamos. O fato é que o erro faz parte da nossa vida. Não é possível fantasiarmos a realidade e achar que, por sermos seguidores de Jesus, não o negaremos diversas vezes.
A nossa identificação com Pedro pode ser vista, além disso, a partir do texto indicado. Ali, notamos que satanás teve licença para peneirar a TODOS os discípulos (1). Isso indica pelo menos duas coisas: primeiro, que o mal tem limite de atuação em nossa vida (2); e, segundo, que o mal sempre estará diante de nós, discípulos de Jesus (3).
Mas, e agora? Como lidar com essa realidade?
Creio que Paulo pode nos dar uma direção. No livro de Romanos, ele nos diz que nenhuma condenação há para aqueles que estão unidos com Cristo Jesus (4). Isso nos lembra um fato inexorável: Jesus sempre estará conosco, e, com amor incondicional, nos guiará para o amadurecimento (5). Então, apesar da convicção e da eminência de que Pedro iria negá-lo, Jesus declara Sua perspectiva amorosa sobre o acontecimento: "– quando você voltar pra mim, anime seus irmãos!" (6). Podemos perceber, portanto, que o amor de Cristo é muito maior do que nossos erros. Jesus, de nossa falha, faz um ministério, um dom, um serviço à comunidade. A "peneira", nesse caso, pode ser vista como algo bom, que nos dá a possibilidade de amadurecer, tornando-nos mais parecido com Cristo (7). Isso significa que, ao contrário de nos tornar passivos em relação ao pecado, a certeza de ser amado incondicionalmente nos dá condições de superar o mal em nossa vida.
No último capítulo de João, enfim, vemos o diálogo decisivo entre Jesus ressurreto e Pedro (8), que ecoa o episódio da negação de Pedro antes da crucificação:
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– Pedro tu me amas?
– Sim, tu sabes que eu te amo!
– Então, toma conta das minhas ovelhas.
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O amor, sem dúvida, é o que sustenta a nossa fé, mesmo diante das "peneiras" da nossa vida. E é a partir da experiência dessa realidade que podemos superar as nossas provações e amadurecer. O final de Pedro, sem dúvida, seria a morte, pelo fato dele ser um seguidor de Jesus (9). Mas parece que ele aprendera a lição...
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Notas:
(1) Versículo 31./(2) Cf. 1Co 10.13; Hb 2.18; Tg 1.14s. /(3) Jo 16.33. /(4) Rm 8.1. Nos versículos anteriores ele, ainda, discute sua luta interior. /(5) Rm 8.26; Jo 14.26-27. /(6) Ou "...quando te converteres, fortalece teus irmãos." /(7) Tg 1.2-4; 2Co 1.3-5. /(8) Jo 21.15-19. /(9) Jo 21.18.