terça-feira, 14 de setembro de 2010

CONFIANÇA X CLAREZA


Quando o brilhante eticista John Kavanaugh foi trabalhar por três meses na “casa dos moribundos” em Calcutá, ele estava à procura de uma clara resposta sobre como viver melhor os anos que lhe restavam de vida. Na primeira manhã ali, ele conheceu a Madre Teresa. E ela lhe perguntou:

― Como posso lhe ser útil?

Kavanaugh pediu que ela orasse em seu favor.

― E você quer que eu ore por qual necessidade?

E ele verbalizou o pedido que havia carregado consigo milhares de quilômetros desde os Estados Unidos:

― Ore para que eu tenha clareza.

E ela disse com firmeza:

― Não, eu não vou orar por isso.

Quando ele lhe perguntou o porquê, ela respondeu:

― Clareza é a última coisa a que você deve se apegar.

Quando Kavanaugh comentou que ela lhe parecera ter a clareza que ele tanto ansiava, ela riu e disse:

― Nunca tive clareza; o que eu sempre tive foi confiança. Então vou orar para que você confie em Deus.

E nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem por nós” (1Jo 4.16). Quando vamos em busca de clareza, tentamos eliminar o risco de confiar em Deus. O medo do caminho desconhecido a nossa frente destrói a confiança infantil na bondade ativa do Pai e em seu amor irrestrito.

Muitas vezes, partimos da premissa de que o ato de confiar irá desfazer a confusão, iluminar a escuridão, acabar com a incerteza e remir o tempo. Mas a nuvem de testemunhas de Hebreus 11 revela que não é bem assim. Nossa confiança não traz uma clareza definitiva neste mundo. Ela não elimina o caos, não entorpece a dor, nem nos serve de muleta. No momento em que está obscuro, o coração que confia diz, a exemplo de Jesus na cruz: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23.46).

Brennan Manning (Confiança Cega, pg. 19)


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