sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

PEREGRINAÇÃO (2011)


Um peregrino é um andarilho com um objetivo.”

Há manhãs em que acordamos com a visão ainda embaçada, ao som do alarme do relógio, e nos esforçamos para encontrar alguma motivação para enfrentar o dia que começa. Afastamos as cortinas para nos depararmos com a mesma cena cotidiana e ansiamos pelo dia em que poderemos sair pela porta e encontrar algo diferente. Nossas vidas diárias podem perecer previsíveis e insatisfatórias e, então, algo dentro de nós nos instiga a ir rumo a novos horizontes, na direção daquela curva, no caminho que os levará a montanhas desconhecidas.

Essa inquietação e esse descontentamento podem significar o início de algo notável. Ao invés de simplesmente desconsiderar esse sentimento, dando de ombros com desdém, poderíamos dar ouvidos ao que o nosso espírito está dizendo. Podemos estar ansiando por um tipo de vida diferente e não apenas por uma simples mudança. Podemos estar famintos de significado, de compreensão, de esperança e também de aventura.

Nosso espírito pode estar ansiando por peregrinação ̶ uma jornada rumo ao desconhecido ̶ mas, ainda assim, uma jornada com um destino.

Nossa vida pode ser uma peregrinação, uma jornada de descoberta espiritual. Mas também há ocasiões em que precisamos viajar com nossos próprios pés, andar pelo mundo deliberadamente, com a intenção de nos permitirmos estar abertos, animados pela esperança, guiados pelo amor.

Andrea Skevington

Que a nossa jornada no próximo ano seja plena de paz, mas repleta de aventura; que estejamos ávidos pelo que Deus quer nos mostrar... FELIZ 2011!

Disse Pedro: quem é que nos guiará pelo caminho além de ti? Só tu tens as palavras que nos fazem experimentar a vida eterna. E nós temos conhecido essa verdade e cremos que tu foste enviado por Deus para nós.” João 6.68s

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

NATAL GAÚCHO

Hoje, mais do que nunca, o Natal tem se confundido com a figura do Papai Noel e com o mercado de presentes. É comum entrar em casas e estabelecimentos comerciais na época natalina e não encontrar sinal do menino Jesus.

Crescemos, na verdade, com a idéia de que Natal é a época de ganhar presentes, dar presentes e, talvez, época de reunir nossos familiares para confraternização, refeições, "amigo secreto"... Embora seja fomentada a “paz entre os homens de boa vontade”, esquece-se do Autor da paz, daquele que veio ao mundo para revelar Deus e mostrar que é possível viver a verdadeira paz, a partir do relacionamento com Ele. Natal é nascimento; o nascimento do Cristo que nos convida a (re)nascer com ele, a cada dia, para desfrutarmos a vida eterna aqui e agora. Não é justo dar todo mérito ao Papai Noel, não é mesmo?

O Rio Grande do Sul, nesse sentido, tem uma história e um folclore que proporcionam retomar o Natal em sua idéia original. Conforme o tradicionalista João Carlos Paixão Côrtes, autor de mais de 40 obras publicadas sobre a cultura gauchesca, a figura do velhinho surgiu no Rio Grande do Sul após a 1ª Guerra Mundial, baseada em um santo (São Clauss para os nórdicos europeus) da Igreja Católica. Foi criado pelo desenhista Tomas Nast, que se inspirou em um poema de seu compatriota norte-americano Clemente Clark Moore. Além disso, segundo Paixão Côrtes, a indústria comercializa e profaniza essa figura: Nast deu-lhe forma, traços e cores, restaurou a cor vermelha da roupa do velho bispo Nicolau e acrescentou uma capa também rubra; o caricaturista inventou um gorro vermelho e, mais tarde, a roupagem de inverno foi simplificada para um gibão, uma espécie de calça abombachada.

Assim, de acordo com o tradicionalista, precisamos valorizar o Natal tipicamente gauchesco, abandonando pinheiros europeus, trenós e roupas de lã. O verdadeiro Natal Gaúcho é uma festa da família, onde se comemora o nascimento de Cristo diante de um presépio, representativamente, com a presença do menino Jesus na manjedoura entre ovelhas, burricos e vacas, além de cânticos e orações fundamentados em mensagens de um cristianismo puro e singelo.

O Natal gaúcho, então, ou simplesmente o Natal, tem mais a ver com simplicidade e desapego (representados pelas próprias condições do nascimento de Jesus); a doação de presentes com o suprimento de necessidades, com dar a quem precisa (a vida de Jesus espelha isso); e os cânticos e orações devem nos levar a um espírito de gratidão por Deus ter nascido como ser humano para reconectar a humanidade com o seu amor.

Vamos, portanto, fazer desse Natal uma celebração do nascimento de Cristo e uma oportunidade de ouvir sua mensagem para todos os povos.

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Relato de Paixão Côrtes (extraído do livro O Natal Gaúcho e os Santos Reses. J. C. PAIXÃO CÔRTES. IGTF, 1982).

“Sempre que se aproxima o fim do ano, vejo entristecido que a querência vai se deixando envolver, mais pelas fantasias das luzes da cidade, pela ambição de um certo comércio, sedento de grandes lucros. Refiro-me ao PAPAI NOEL e ao NATAL.
Desde meus tempos de piá, cruzando a linha divisória que une Santana do Livramento à Rivera (Uruguai) e, anos mais tarde, quando em pesquisa sobre música folclórica, visitei o Paraguai, Argentina e Bolívia, verifiquei ainda a diferença das comemorações do Ciclo Natalino desses países com o nosso.

Aliás, da América Latina, é, mais freqüente no Brasil, que apareça a figura, misto de ‘Lucifer-santo’, atemorizando as crianças travessas e faltosas, prometendo-lhes varas de marmelo e, quase ao mesmo tempo, com um saco de brinquedos às costas, estende a mão aos guris comportados, oferecendo-lhes ‘bondosamente’ presentes.
Na maioria dos demais países sul-americanos, não encontramos Papai Noel distribuindo presentes no Natal, como acontece em nosso país.

A verdadeira tradição natalina rio-grandense é aquela em que se comemora o dia do nascimento de Cristo, diante de um presépio, com Menino Jesus na manjedoura, com burrico, vaquinha, ovelha, cânticos, anunciando a chegada dos Reis Magos...
Este é o verdadeiro NATAL GAÚCHO. Festa da família. Dia de Navidad, como denominam os países de língua espanhola na América do Sul.

Qual a razão do renascimento do culto de uma árvore, tão difundido entre os povos mais primitivos? De onde é, este tipo de pinheiro, estranho ao nosso, que se desenvolve em determinadas regiões do Brasil? Imaginem só! No mais forte do verão, aqui, um Papai Noel vestido com grossas roupas de lã, capuz, todo respingado de neve, descendo, de botas, de uma chaminé ou sentado em um trenó, puxado por gamos...
Velinhas e bolinhas coloridas completam os enfeites das mesas onde são servidas nozes, tâmaras, torrones, chocolates, ameixas secas, passa, etc, alimentos de alto teor calorífico, próprios para o inverno, em pleno clima europeu... Tudo isso num país tropical como o Brasil!!!

Portanto, tentemos encontrar, na história universal das festividades natalinas, algumas explicações para o surgimento de certos acontecimentos, hoje vividos em muitos rincões do mundo.”

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O lar... do jeito de Deus



Lar doce lar. O que é um lar? É o nosso refúgio, nosso abrigo no temporal, nosso porto seguro. É um oásis onde matamos nossa sede, renovamos as energias, partilhamos juntos o pão de cada dia, nos sentimos amados, acolhidos, aceitos e protegidos. É um lugar de perdão; perdoamos e somos perdoados. Nossas feridas são tratadas e saradas, abraçamos e somos abraçados, beijamos e também somos beijados.

Lar é um lugar onde a doação acontece em pequenos gestos, queremos mais compreender do que ser compreendidos, onde o dar vem antes do receber. É o jardim onde a beleza e o perfume das flores exalam em palavras e atitudes. [É o templo onde orações são entregues a Deus e onde Deus responde como aquele que faz parte e sustenta a família].

Lar é a lareira sempre acesa, onde pais e filhos são aquecidos nos dias gélidos, quando chega o inverno. O respeito, a fidelidade, a estima, a consideração e o temor a Deus são virtudes vividas na prática. Quando um membro sofre, todos sofrem com ele; quando um se alegra, todos são contagiados por ele. Onde ninguém tem em vista o que é propriamente seu, mas, sim, o que é do outro. Onde não digo eu, mas digo nós. Podemos até pensar diferente, ver as coisas em ângulos diferentes, mas nada é capaz de nos separar. É onde o cordão de três dobras não se quebra, as muitas águas não apagam o amor, e nem os rios o afogam.

Lar é o lugar onde a palavra que mais se pronuncia e é mais ouvida é... AMOR. Sim, o amor que é paciente, bondoso. O amor que não inveja, não se vangloria, não se orgulha. O amor que não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor que não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. O amor que tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Esse tipo de amor jamais acaba...

Que Deus abençoe o nosso lar. Que ele seja do jeito de Deus.

Messias A. Rosa (adaptado)

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Sobre Deus...

Alguém disse que gosta das coisas que escrevo, mas não gosta do que penso sobre Deus. Não se aflijam. Nossos pensamentos sobre Deus não fazem a menor diferença. Nós nos afligimos com o que os outros pensam sobre nós. Pois que lhes digo que Deus não dá a mínima. Ele é como uma fonte de água cristalina. Através dos séculos, os homens tem sujado essa fonte com seus malcheirosos excrementos intelectuais. Disseram que ele tem uma câmara de torturas chamada inferno onde coloca aqueles que lhe desobedecem, por toda a eternidade, e ri de felicidade contemplando o sofrimento sem remédio dos infelizes.

Disseram que ele tem prazer em ver o sofrimento dos homens, tanto assim que os homens, com medo, fazem as mais absurdas promessas de sofrimento e autoflagelação para obter o seu favor. Disseram que ele se compraz em ouvir repetições sem fim de rezas, como se ele tivesse memória fraca e a reza precisasse ser repetida constantemente para que ele não se esqueça. Em nome de Deus os que se julgavam possuidores das idéias certas fizeram morrer nas fogueiras milhares de pessoas. Mas a fonte de água cristalina ignora as indignidades que os homens lhe fizeram. Continua a jorrar água cristalina, indiferente àquilo que os homens pensam dela.

Você conhece a estória do galo que cantava para fazer nascer o sol? Pois havia um galo que julgava que o sol nascia porque ele cantava. Toda madrugada batia as asas e proclamava para todas as aves do galinheiro: “Vou cantar para fazer o sol nascer”. Ato contínuo, ele subia no poleiro, cantava e ficava esperando. Aí o sol nascia. E ele então, orgulhoso, disse: “Eu não disse?”. Aconteceu, entretanto, que num belo dia o galo dormiu demais, perdeu a hora. E quando ele acordou com as risadas das aves, o sol estava brilhando no céu. Foi então que ele aprendeu que o sol nascia de qualquer forma, quer ele cantasse, que não cantasse. A partir desse dia ele começou a dormir em paz, livre da terrível responsabilidade de fazer o sol nascer.

Pois é assim com Deus. Pelo menos é assim que Jesus o descreve. Deus faz o sol nascer sobre maus e bons, e a sua chuva descer sobre justos e injustos. Assim não fiquem aflitos com minhas idéias. Se eu canto não é para fazer nascer o sol. É porque sei que o sol vai nascer independentemente do meu canto. E nem se preocupem com suas idéias. Nossas idéias sobre Deus não fazem a mínima diferença para Ele. Fazem, sim, diferença para nós. Pessoas que tem idéias terríveis sobre Deus não conseguem dormir direito, são mais suscetíveis de ter infartos e são intolerantes. Pessoas que têm idéias mansas sobre Deus dormem melhor, o coração bate tranqüilo e são tolerantes.

Fui ver o mar. Gosto do mar quando a praia está vazia da perturbação humana, nas tardes, de manhã cedo. A areia lisa, as ondas que quebram sem parar, a espuma, o horizonte sem fim. Que grande mistério é o mar! Que cenários fantásticos estão no seu fundo, longe dos olhos! Para sempre incognoscível! Pense no mar como uma metáfora de Deus. Se tiver dificuldades leia a Cecília Meirales, Mar Absoluto. Faz tempo que, para pensar sobre Deus, eu não leio teólogos; leio os poetas. Pense em Deus como um oceano de vida e bondade que nos cerca. Romain Rolland descrevia seu sentimento religioso como um “sentimento religioso”. Mas o mar, cheio de vida, é incontrolável. Algumas pessoas têm a ilusão que é possível engarrafar Deus. Quem tem Deus engarrafado tem o poder. Como na estória de Aladim e a lâmpada mágica. Nesse Deus eu não acredito. Não tenho respeito por um Deus que se deixa engarrafar. Prefiro o mistério do mar… Algumas pessoas não gostam do que penso sobre Deus porque elas deixam de acreditar que suas garrafas religiosas contenham Deus…

Ruben Alves

terça-feira, 9 de novembro de 2010

ESTABELECER LIMITES, RESPEITAR LIMITES


A vida de relacionamentos leva a nos depararmos, freqüentemente, com a temática do limite. Muitos dos que buscam aconselhamento sofrem com o fato de, simplesmente, não saberem impor limites. Não sabem dizer não e estão sob a pressão interna de realizar todos os desejos dos outros. Acreditam que precisam corresponder a todas as expectativas e receiam dizer não, pois temem pelo abalo do seu sentimento de pertencimento ao grupo ou porque imaginam que esta atitude geraria uma rejeição. Outros comem demasiadamente porque não percebem o próprio limite. E sofrem com a sua própria incapacidade.

Em outros casos, percebemos uma incapacidade de delimitar o seu espaço diante daqueles que o rodeiam. Os limites se desfazem. Esse tipo de pessoa torna-se permeável ao que os outros sentem, sem que tal fato constitua um dado positivo. Na verdade, os seus próprios sentimentos se misturam constantemente com os dos outros. Fica exposto aos humores do ambiente que o circunda e se deixa determinar por eles. Por vezes, tem a impressão de estar se dissolvendo e vive, nesse sentido, absolutamente desprotegido. [...]

Como, então, a vida humana de uma pessoa, que afinal é sempre uma vida fundada em relacionamentos, poderia ter êxito? Sem a capacidade de delimitar o seu espaço, torna-se impossível se perceber a si mesmo enquanto pessoa, nem se desenvolver nesse sentido. Um simples olhar para o significado da palavra já sugere tal coisa: originalmente “pessoa” significa “máscara”. Através da máscara, ou seja, daquilo que penso de mim mesmo, posso estabelecer contato com o outro. A palavra latina personare significa “combinar através de”. Por intermédio da minha voz, do ato de falar, alcanço a outra pessoa, e, dessa forma, acontece o encontro, que para ter êxito exige bom equilíbrio entre limite e transgressão, proteção e abertura, demarcação do próprio espaço e entrega. Preciso conhecer o meu limite para poder transgredi-lo repetidamente no sentido de aproximar-me do outro, encontrá-lo, tocá-lo através do encontro, experimentar possivelmente um instante de me tornar uno.

Visto dessa maneira, o encontro ocorre sempre no limite. Preciso ir até o meu limite, ao ponto máximo para mim possível, para alcançar o outro. Quando o encontro tem êxito, os limites não são mais rígidos, nem separam; tornam-se fluidos. Ocorre, assim, no limite e para além do limite o evento de se tornar uno. Mas esse encontro não é estático, mas algo que sempre se realiza de forma viva e após o qual cada um retorna ao seu próprio contexto, enriquecido pela experiência no limite.

Para o escritor francês R. Rolland, a relação adequada com os limites chega a ser a chave decisiva para a felicidade. Diz ele: “Felicidade significa conhecer os seus limites ― e amá-los”. Na sua visão, não importa, portanto, apenas a arte de impor limites ou de conhecê-los. É preciso também amá-los. O que seria o mesmo que dizer que devemos concordar com as nossas limitações e ser gratos pelo limites que experimentamos em nós e nos outros. A chave da felicidade encontra-se na possibilidade de amar as próprias limitação e também amar as pessoas com os seus limites. Tal tarefa nem sempre é simples, já que desenvolvemos imagens de ausência de limites a respeito de nós mesmos. Para Rolland, no entanto, quem se reconcilia com os próprios limites e lida de forma amorosa com os mesmos terá sucesso na vida e experimentará felicidade.[...]

Anselm Grün

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Preciso de outro pecador !

Fui a uma "igreja" singular recentemente que consegue atrair milhões de membros devotos todas as semanas, sem ter sede denominacional e nem funcionários contratados. O nome é Alcoólicos Anônimos. Fui a convite de um amigo, que me confessara, pouco tempo antes, seu problema com a bebida. Ele me disse: ― Venha comigo, e verá uma amostra de como deve ter sido a igreja primitiva.

À meia–noite de uma segunda–feira, entrei em uma casa caindo aos pedaços, que já abrigara seis sessões naquele dia. Nuvens de fumaça de cigarro pairavam no ar como gás lacrimogêneo. Não passou muito tempo antes que eu percebesse o que meu amigo queria dizer com sua alusão à igreja primitiva. Um político muito conhecido e vários milionários proeminentes se misturavam com desempregados desanimados e garotos que colocavam band–aids nos braços para esconder as marcas das agulhas. O "momento de compartilhar" foi semelhante às descrições de grupos de terapia ideais que encontramos nos livros de cursos de psicologia. As pessoas ouviam em compaixão, respondiam com ardor e abraçavam–se ao final. As apresentações eram mais ou menos assim:

― Oi, sou o João, e sou dependente de álcool e drogas. Imediatamente todos gritavam em uníssono, como um coral do teatro grego: ― Oi, João! Cada participante da reunião, então, deu o relatório de seu progresso pessoal na batalha contra a dependência.

Cartazes com frases simpáticas ("Um dia de cada vez!", "Você consegue!") enfeitavam as paredes desbotadas da sala. Meu amigo acredita que esses arcaísmos revelam outra semelhança com a igreja primitiva. A maior parte da sabedoria do AA é passada de uma pessoa para a outra pela tradição oral, que vem desde a fundação da entidade, há mais de cinqüenta anos. Ninguém usa muito as publicações atualizadas do AA e nem seus artigos de relações públicas. Em vez disso, confiam principalmente em um velho livro embolorado com o título prosaico: O Grande Livro Azul dos Alcoólicos Anônimos, que conta a história dos primeiros membros, em um estilo pomposo, parecido com o da Bíblia.

O AA não possui qualquer propriedade, não tem uma sede com luxos como mala direta e centro de mídia, não há uma equipe de consultores bem pagos e nem conselheiros de investimentos a cruzar o país de avião. Os fundadores do movimento estabeleceram garantias que acabariam com qualquer iniciativa para implantar a burocracia. Acreditavam em que o programa só teria sucesso se permanecesse no nível mais básico e íntimo: um alcoólico dedicando sua vida a ajudar outro. Mesmo assim, o AA mostrou–se tão eficaz que mais 250 organizações, de Chocólatras Anônimos a grupos de pacientes de câncer, surgiram como uma imitação consciente de sua técnica.

Os muitos paralelos com a Igreja primitiva não são meras coincidências históricas. Os fundadores cristãos insistiram em que a dependência de Deus deveria ser uma parte obrigatória do programa. Na noite em que participei da reunião, todos na sala repetiram em voz alta os doze princípios, onde reconhecem total dependência de Deus para perdão e força. [...]

A igreja da meia-noite do meu amigo me ensinou a necessidade de humildade, honestidade total e dependência radical: dependência de Deus e de uma comunidade de amigos compassivos. Ao pensar nisso, pareceu-me que essas qualidades eram exatamente as que Jesus tinha em mente quando fundou sua igreja.

De acordo com o historiador Ernest Kurtz, os Alcoólicos Anônimos surgiram de uma descoberta feita por Bill Wilson em seu primeiro encontro com o Doutor Bob Smith. Por conta própria, Bill tinha conseguido manter-se sóbrio por seis meses, até que viajou para outra cidade e não conseguiu fechar um negócio. Deprimido, andando pelo saguão de um hotel, ouviu os sons conhecidos de risadas e gelo tilintando nos copos. Dirigiu-se ao bar, pensando "Preciso de um trago". De repente, veio-lhe um novo pensamento que o fez parar: "Não, não preciso de um trago; preciso de outro alcoólatra!" Foi até os telefones do saguão e começou a sequência de telefonemas que o colocaram em contato com o Dr. Smith, que viria a ser o co-fundador do Alcoólicos Anônimos.

A igreja é o lugar onde posso dizer, sem vergonha alguma: "Não preciso pecar. Preciso de outro pecador. Quem sabe, juntos, possamos nos ajudar a prestar contas um ao outro e nos manter no caminho certo"!
Adaptado de Philip Yancey

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Solidão interior

Para existir, a sociedade depende da inviolável solidão pessoal de seus membros. Uma sociedade, para merecer esse nome, deve compor-se, não de números ou de unidades mecânicas, mas de pessoas. Ser uma pessoa implica em responsabilidade e liberdade; ambas implicam certa solidão interior, um senso de integridade pessoal, um senso da própria realidade pessoal e da capacidade que se tem para se dar à sociedade ― ou recusar essa doação.

Quando os homens se encontram submersos em massa de seres humanos impessoais, empurrados de lá para cá por forças automáticas, perdem sua verdadeira humanidade, sua integridade, sua capacidade de amar, sua possibilidade de autodeterminação. Quando a sociedade se compõe de homens que desconhecem a solitude interior, não pode mais manter-se unida pelo amor; conseqüentemente, é mantida pela violência e uma autoridade abusiva. Mas, quando os homens se vêem violentamente privados da solidão e da liberdade a que tem direito, a sociedade em que vivem apodrece, ulcerada pelo servilismo, o rancor, o ódio.

Nenhum grau de progresso tecnológico poderá curar o ódio que devora, como um câncer espiritual, as entranhas da sociedade materialista. Há, unicamente, e sempre haverá uma só cura, e esta é espiritual. Pouco adianta falar aos homens sobre Deus e sobre o amor se não são capazes de escutar. Os ouvidos com que se atende à mensagem do evangelho estão ocultos no coração do ser humano e nada podem ouvir se não são favorecidos com certa dose de solidão e silêncio interior.

Em outras palavras, uma vez que a fé é questão de liberdade e autodeterminação ― a livre recepção de um dom gratuito da graça ―, o ser humano não pode dar seu assentimento a uma mensagem espiritual enquanto tem a mente e o coração escravizados pelo automatismo. Permanecerá assim escravizado enquanto estiver submergido numa massa de outros autônomos, privados de individualidade e de sua integridade de ser humano, a que tem direito.

O que aqui dizemos a respeito da solidão não é uma receita para eremitas. Tem a ver com o futuro dos homens e do mundo em sua totalidade; em especial, é claro, com o futuro da espiritualidade do ser humano.
Thomas Merton

domingo, 17 de outubro de 2010

Orações de fé!


"SENHOR, MEU DEUS, não tenho idéia para onde estou indo. Não vejo o caminho adiante de mim. Não posso saber com certeza onde terminará. Nem sequer, em verdade, me conheço. E o fato de eu pensar que estou seguindo tua vontade, não significa que realmente o esteja. Mas acredito que o desejo de te agradar te agrada, de fato. E espero ter esse desejo em tudo que estiver fazendo. Espero jamais vir a fazer alguma coisa distante desse desejo. E sei que, se agir assim, tu hás de me levar pelo caminho certo, embora eu possa nada saber sobre o mesmo. Portanto, hei de confiar sempre em ti, ainda que eu possa parecer estar perdido e sob a sombra da morte. Não hei de temer, pois tu sempre estás comigo, e nunca hás de deixar que eu enfrente meus perigos sozinho".


Thomas Merton, do livro “Na Liberdade da Solidão”

“Ó SENHOR DEUS, tu me examinas e me conheces. Sabes tudo o que eu faço e, de longe, conheces todos os meus pensamentos. Tu me vês quando estou trabalhando e quando estou descansando; tu sabes tudo o que eu faço. Antes mesmo que eu fale, tu já sabes o que vou dizer. Estás em volta de mim, por todos os lados, e me proteges com o teu poder. Eu não consigo entender como tu me conheces tão bem; o teu conhecimento é profundo demais para mim. Para onde poderia eu escapar do teu Espírito? Para onde eu poderia fugir da tua presença? Se eu subir aos céus, lá estás; se eu descer ao mais profundo abismo, lá estás também. Se eu subir com as asas da alvorada e for morar na mais longínqua extremidade do mar, mesmo ali a tua mão me guiará e a tua destra me sustentará. Eu poderia pedir, ainda, que a escuridão me escondesse e que em volta de mim a luz virasse noite; mas isso não adiantaria nada porque para ti a escuridão não é escura, e a noite é tão clara como o dia. Para ti luz e trevas são a mesma coisa”.

Salmo 139.1-12

sábado, 2 de outubro de 2010

O VENTO...



"O vento sopra onde quer. Você o escuta, mas não sabe dizer de onde vem nem para onde vai..." (João 3.8)

Eis uma mensagem que fornece pistas evidentes da integralidade da missão de Deus no mundo e que constrange a "igreja-em-missão" a se engajar por amor.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A liberdade da vida simples

No discurso que fez sobre a pobreza, Jesus declarou a intenção de “libertar os oprimidos” (Lc 4.18). Enquanto andou no meio do povo pregando e curando, ele percebeu as muitas opressões que assolavam sua gente. Para ajudá-los a carregar esse fardo, o Mestre fazia constante referência ao mais pesado de todos os fardos: a garantia do sustento de amanhã.

Jesus notou que as pessoas ficavam pobres quando tentavam enriquecer e também percebeu a terrível vulnerabilidade dos que achavam que a provisão era responsabilidade deles e queriam ser os melhores. O apóstolo Paulo afirma que quem deseja obter riquezas cai em “muitos desejos descontrolados e nocivos” (1Tm 6.9-10). Por certo, ele sabia qual era o desejo do coração de muitos de seus contemporâneos: a conquista de riquezas.

Cristo também não deixou de notar como as pessoas ficavam abaladas por não conseguirem enriquecer. Na época, a pobreza era considerada um sinal da reprovação divina. Os que não conseguiam acumular bens terrenos inclinavam-se a pensar que, por algum motivo, Deus estava insatisfeito com eles. Lembra-se de como os discípulos ficaram perplexos quando Jesus disse que era mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha que um rico entrar no Reino de Deus (Mt 19.24)? De início, eles ficaram espantados por causa da crença vigente, segundo a qual os bens do jovem rico eram um sinal do favor divino. Por isso, os discípulos perguntaram: “Nesse caso, quem pode ser salvo?” (19.25).

Jesus percebeu que os judeus se ressentiam com o fato de serem pobres, sentindo-se humilhados e acreditando que Deus não se agradava deles. Jesus muitas vezes contradisse essa doutrina falsa e destrutiva, mostrando que, na contabilidade divina, os pobres, oprimidos e deficientes eram objeto especial das bênçãos e do cuidado de Deus (Mt 5.1-12). Por meio de palavras e ações, ele procurou aliviar o peso dos desanimados e desesperançados.


Jesus viu também o enorme fardo que pesava sobre os que haviam enriquecido e queriam continuar assim. Ele conhecia o caráter maligno da riqueza e alertava sobre os problemas a ela relacionados. Advertia também contra o “engano das riquezas” (Mt 13.22). As riquezas são enganosas justamente porque nos induzem a confiar nelas, e Jesus percebeu a armadilha, bem como a real ameaça a destruição espiritual. Esse era o fardo que incomodava o jovem religioso e rico. Na verdade, ele não possuía “muitas riquezas”; elas é que o possuíam. De todas as opressões, essa era a mais debilitante para sua vida espiritual.

A todos os que carregam o fardo do amanhã, ou qualquer outro fardo, Jesus estende seu gracioso convite:

Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.
(Mt 11.28-30)


R. Foster

terça-feira, 14 de setembro de 2010

CONFIANÇA X CLAREZA


Quando o brilhante eticista John Kavanaugh foi trabalhar por três meses na “casa dos moribundos” em Calcutá, ele estava à procura de uma clara resposta sobre como viver melhor os anos que lhe restavam de vida. Na primeira manhã ali, ele conheceu a Madre Teresa. E ela lhe perguntou:

― Como posso lhe ser útil?

Kavanaugh pediu que ela orasse em seu favor.

― E você quer que eu ore por qual necessidade?

E ele verbalizou o pedido que havia carregado consigo milhares de quilômetros desde os Estados Unidos:

― Ore para que eu tenha clareza.

E ela disse com firmeza:

― Não, eu não vou orar por isso.

Quando ele lhe perguntou o porquê, ela respondeu:

― Clareza é a última coisa a que você deve se apegar.

Quando Kavanaugh comentou que ela lhe parecera ter a clareza que ele tanto ansiava, ela riu e disse:

― Nunca tive clareza; o que eu sempre tive foi confiança. Então vou orar para que você confie em Deus.

E nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem por nós” (1Jo 4.16). Quando vamos em busca de clareza, tentamos eliminar o risco de confiar em Deus. O medo do caminho desconhecido a nossa frente destrói a confiança infantil na bondade ativa do Pai e em seu amor irrestrito.

Muitas vezes, partimos da premissa de que o ato de confiar irá desfazer a confusão, iluminar a escuridão, acabar com a incerteza e remir o tempo. Mas a nuvem de testemunhas de Hebreus 11 revela que não é bem assim. Nossa confiança não traz uma clareza definitiva neste mundo. Ela não elimina o caos, não entorpece a dor, nem nos serve de muleta. No momento em que está obscuro, o coração que confia diz, a exemplo de Jesus na cruz: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23.46).

Brennan Manning (Confiança Cega, pg. 19)


terça-feira, 7 de setembro de 2010

Ninguém pode te amar como Jesus te ama

O coração humano não tem a capacidade de dar o amor que você precisa para ser feliz. A limitação do coração humano é grande, pois ele não pode fazer nada por si mesmo. Ele dependerá sempre de um outro coração que o ajude e que igualmente o ame, para que possa também ser feliz.

Nessas condições, o coração humano está sempre sujeito às limitações de um outro, às vezes, até mais frágil e muito mais carente que o nosso próprio coração, aumentando assim, cada vez mais o círculo vicioso da infelicidade.

Um carente procura outro carente; um frágil se apóia em outro frágil, na esperança que cada um dê ao outro a felicidade que ambos não têm; o resultado disso é a queda, pois estamos nos apoiando em algo sem sustentação em si mesmo.

Da mesma forma, quando alguém quer fazer de nós a sua fonte de felicidade, colocando em nossas mãos a sua enorme necessidade de ser feliz e nós, eu e você, que também estamos precisando desesperadamente de felicidade; nos sentimos confusos e impotentes.

É nesse momento de angústia e solidão que devemos nos lembrar daquela frase: Jesus te ama! Sim, Jesus te ama, e com um amor que nasce não do coração humano, mas do coração de Deus! Ninguém pode te amar como Jesus te ama! Simplesmente porque Jesus não tem amor, Ele é o amor! O verdadeiro amor, que não pode ser encontrado no coração humano, mas do coração de Deus! Ninguém pode te amar como Jesus te ama! Simplesmente porque Jesus não tem amor, Ele é o amor! O verdadeiro amor que não pode ser encontrado no coração humano, pois vem do alto, é espiritual, sobrenatural, sagrado.

Jesus não esperou ser amado por você para também te amar. Ele já te ama, agora, ontem, amanhã e sempre. O seu amor divino não estabelece condições ou imposições para te amar. Jesus te ama como você é! Para ele você não é feio ou bonito, grande ou pequeno, branco ou negro,rico ou pobre, jovem ou velho, pois Jesus não olha a sua aparência, mas Ele vê o seu coração.E é ali, no seu coração, que Ele quer habitar para lavar as suas feridas, tirar toda a amargura, secar as suas lágrimas, e limpar as cicatrizes da sua alma, porque você, você é importante demais para Ele.

O coração humano não tem culpa por ser limitado; se alguém não deu a você a felicidade que você esperava, é porque ninguém pode dar aquilo que não tem. Mas quando você aceitar e receber em seu coração esse amor que perdoa, esse amor que não cobra, esse amor que dá a paz, a alegria, o seu coração humano será transformado em um coração espiritual, pois nele habitará o amor de Jesus Cristo. Então, então você vai começar a olhar, a perdoar e a amar como Jesus. E, finalmente, você vai encontrar aquilo que tanto você procurava: a Felicidade! Pois só o amor de Jesus Cristo tem a capacidade de dar tudo o que você precisa para ser feliz.

Olha: ninguém pode te amar como Jesus te ama.

Nelson Ned

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Cântico do Irmão Sol

Altíssimo, onipotente, bom Senhor
Teus são o louvor, a glória, a honra e toda a benção.
Só a ti, Altíssimo, são devidos;
E homem algum é digno de te mencionar.

Louvado sejas, meu Senhor,
Com todas as tuas criaturas.
Especialmente o senhor, irmão Sol,
Que clareia o dia e com sua luz nos ilumina.
E ele é belo e radiante com grande esplendor:
De ti, Altíssimo, é a imagem.

Louvado sejas, meu Senhor,
Pela irmã Lua e as Estrelas,
Que no céu formaste as claras
E preciosas e belas.

Louvado sejas, meu Senhor,
Pelo irmão Vento,
Pelo ar - ou nublado ou sereno - e todo o tempo,
Pelo qual às tuas criaturas dás sustento.

Louvado sejas, meu Senhor,
Pela irmã Água,
Que é muito útil e humilde,
E preciosa e casta.

Louvado sejas, meu Senhor,
Pelo irmão Fogo,
Pelo qual iluminas a noite.
Ele é belo e jucundo,
E vigoroso e forte.

Louvado sejas, meu Senhor,
Por nossa irmã, a mãe Terra,
Que nos sustenta e governa,
E produz frutos diversos
E coloridas flores e ervas.

Louvado sejas, meu Senhor,
Pelos que perdoam por teu amor,
E suportam enfermidades e tribulações.
Bem-aventurados os que as sustentam em paz,
Que por Ti, Altíssimo, serão coroados.

Louvado sejas, meu Senhor,
Por nossa irmã, a Morte corporal,
Da qual homem algum pode escapar.
Ai dos que morrerem em pecado mortal!
Felizes os que ela achar conformes à tua santíssima vontade,
Porque a morte segunda não lhes fará mal!

Louvai e bendizei ao meu Senhor,
E dai-lhe graças,
E servi-o com grande humildade.

Francisco de Assis

sábado, 14 de agosto de 2010

A IMITAÇÃO DE CRISTO

Até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo”. (Ef 4.13)

Quando Jesus andou aqui, vivendo e trabalhando entre todos os tipos e classes de pessoas, ele nos deu o divino modelo para conjugar todos os verbos de nosso viver. Muitas vezes, quando nos preocupamos em explicar pontos doutrinários, apressamo-nos em expor a morte de Jesus. Ao fazer isso, esquecemo-nos da vida de Jesus, o que é uma grande perda. Prestar atenção na vida de Jesus nos dá pistas importantes para o nosso próprio viver.

Jesus viveu nesse mundo falido e doloroso, aprendendo a obediência com tudo o que sofreu, tentado de todas as formas, como nós somos, e ainda assim permanecendo sem pecado (Hb 5.8; 4.15). Somos, sim, reconciliados com Deus pela morte de Jesus, não há dúvida disso; mas somos, ainda mais, “salvos” por sua vida (Rm 5.10). Salvos no sentido de entrar na vida eterna que ele dá, não apenas no distante céu, mas desde agora em meio ao nosso mundo falido e cheio de tristezas.
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Quando analisamos atentamente o modo que Jesus viveu entre nós em carne e osso, aprendemos como devemos viver ― verdadeiramente viver ―, fortalecidos por ele, que está conosco todos os dias até a consumação dos séculos. Em seguida, iniciamos uma intencional “imitação de Cristo”, não de modo literal, nem superficial, mas tomando o espírito e o poder em que ele viveu, e aprendendo a andar “em seus passos” (1Pe 2.21).

Nesse sentido, podemos falar, verdadeiramente, de primazia dos evangelhos, porque neles vemos Jesus vivendo e se movendo entre seres humanos, demonstrando perfeita unidade com a vontade do Pai. Somos ensinados a fazer o mesmo, assumindo a natureza da semelhança de Cristo, tomando parte da atitude, do amor, da esperança, dos sentimentos e dos hábitos de Jesus.
R. Foster

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Chamado para ser como Jesus


Esta mensagem foi traduzida do espanhol de um folheto encontrado na Colômbia, sem direitos autorais, assinado apenas como "Autor Conhecido Somente por Deus".

Se Deus tem chamado você para que seja verdadeiramente como Jesus com todas as forças de seu espírito, Ele o estimulará para que leve uma vida de crucificação e de humildade e exigirá tal obediência que você não poderá imitar aos demais cristãos, pois Ele não permitirá que você faça o mesmo que fazem os outros, em muitos aspectos.

Outros, que aparentemente são muito religiosos e fervorosos, podem ter a si mesmos em alta estima, podem buscar influência e ressaltar a realização de seus planos; você, porém, não deve fazer nada disso, pois, se tentar fazê-lo, fracassará de tal modo e merecerá tal reprovação por parte do Senhor, que você se converterá em um penitente lastimável.

Outros poderão fazer alarde de seu trabalho, de seus êxitos, de seus escritos, mas o Espírito Santo não permitirá a você nenhuma dessas coisas. Se você começar a proceder dessa forma, Ele o consumirá em uma mortificação tão profunda que você depreciará a si mesmo tanto quanto a todas as suas boas obras.

A outros será permitido conseguir grandes somas de dinheiro e dar-se a luxos supérfluos, porém Deus só proporcionará a você o sustento diário, porque quer que você tenha algo que é muito mais valioso que o ouro: uma absoluta dependência Dele e de Seu invisível tesouro.

O Senhor permitirá que os demais rece­bam honras e se destaquem, enquanto mantém você oculto na sombra, porque Ele quer produzir um fruto seleto e fragrante para Sua glória vindoura, e isso só pode ser produzido na sombra.

Deus pode permitir que os demais sejam grandes, mas você deve continuar sendo pequeno; Deus permitirá que outros trabalhem para Ele e ganhem fama, porém fará com que você trabalhe e se desgaste sem que nem mesmo saiba quanto está fazendo.

Depois, para que seu trabalho seja ainda mais valioso, permitirá que outros recebam o crédito pelo que você faz, com o fim de lhe ensinar a mensagem da cruz: a humildade e algo do que significa participar de Sua natu­reza. O Espírito Santo manterá sobre você uma estrita vigilância e, com zeloso amor, lhe reprovará por suas palavras, ou por seus sentimentos indiferentes, ou por gastar mal o seu tempo, coisas essas que parecem não preocupar aos demais cristãos.

Por isso, habitue-se à idéia de que Deus é um soberano absoluto que tem o direito de fazer o que Lhe apraz com os que Lhe pertencem e que não pode explicar-lhe a infinidade de coisas que poderiam confundir sua mente pelo modo como Ele procede com você. Deus lhe tomará a palavra; e se você se vende para ser Seu escravo sem reservas, Ele o envolverá em um amor zeloso que permitirá que outros façam muitas coisas que a você não são permitidas.

Saiba-o de uma vez por todas: você tem de se entender diretamente com o Espírito Santo acerca dessas coisas, e Ele terá o privilégio de atar sua língua, ou de colocar algemas em suas mãos ou de fechar seus olhos para aquilo que é permitido aos demais. Entretanto, você conhecerá o segredo do Reino. Quando estiver possuído pelo Deus vivo de tal maneira que se sinta feliz e contente no íntimo de seu coração com essa peculiar, pessoal, privada e zelosa tutoria e com esse governo do Espírito Santo sobre sua vida, então haverá encontrado a entrada dos céus, o chamado do alto, de Deus.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Bonheoffer e a liberdade cristã

"Sentado no jardim do seminário, tive tempo de pensar e orar no que se refere à minha situação e a da minha nação, obtendo algumas luzes sobre a vontade de Deus. Cheguei à conclusão que cometi um erro em vir para os Estados Unidos. Nesse período difícil da história da minha pátria, devo viver junto com o meu povo. Não terei o direito de participar da reconstrução da vida cristã na Alemanha depois da guerra se não tiver compartilhado com meu povo as provas desse período. Os cristãos alemães terão que enfrentar a terrível alternativa de desejarem a derrota de sua pátria para a salvação da civilização cristã ou de desejarem a vitória de sua pátria e, conseqüentemente, a destruição de nossa civilização. Eu sei a escolha que devo fazer, porém não posso fazê-la e manter-me ao mesmo tempo em segurança".
Carta de despedida para o professor Reinhold Niebuhr.


Dietrich Bonhoeffer (1906-1945), teólogo, obteve o título de doutorado com 21 anos. Depois de trabalhar em algumas igrejas na Europa e EUA foi reitor e professor do Seminário da Igreja Confessante na Alemanha, ala da igreja evangélica que não aderiu à política nacional socialista na primeira metade do século XX. Após o seminário ser fechado pela polícia nazista, Bonhoeffer se engajou no movimento de resistência contra Hitler, inclusive participando de uma conspiração para assassiná-lo. Foi morto aos 39 anos, poucos meses antes da 2ª Guerra terminar.

Em sua cela de prisão, foi encontrado esse lindo poema que aponta para o caminho da verdadeira liberdade cristã:

ESTAÇÕES NA ESTRADA PARA A LIBERDADE ― 21 de abril de 1944

DISCIPLINA
Se buscas a liberdade, então aprende acima de tudo a disciplina da alma e dos sentidos, para que tuas paixões e teus membros não te conduzam em confusão de lá para cá. Castos sejam teu espírito e teu corpo, sujeitos à tua própria vontade, e obedientes para alcançarem o alvo para o qual eles te foram dados. Ninguém descobre o segredo da liberdade a não ser pelo autocontrole.

AÇÃO
Tenha coragem para fazer o que é justo e não o que a fantasia possa pedir; não percas tempo com o que pode ser, mas, corajosamente, apega-te ao que é real. O mundo das idéias é fuga; a liberdade só vem pela ação. Vigia além da ansiedade que espreita e dentro da tempestade de eventos, carregado somente pela ordem de Deus e por tua própria fé; então a liberdade exultantemente clamará para receber teu espírito.

SOFRIMENTO
Maravilhosa transformação! Tuas fortes e ativas mãos estão agora atadas. Impotente, solitário, vês o fim da tua ação. Impávido, inspiras profundamente e entregas tua luta por justiça ― silenciosamente e em fé ― à mão mais poderosa. Por apenas um inebriante instante, experimentas a doçura da liberdade; então a estendes a Deus, para que ele a torne completa.

MORTE
Vem agora, o ponto alto na estrada para a liberdade eternal. Morte, deixa cair as pesadas e sombrias correntes e destrói as paredes de nosso corpo mortal ― as paredes de nossa alma cega ― para que possamos, finalmente, ver o que os mortais nos tem impedido de ver. Liberdade, por quanto tempo a procuramos por meio da disciplina, da ação e do sofrimento. Morrendo, agora vemos tua face em favor de Deus.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Frank Laubach

Frank Laubach nasceu nos Estados Unidos em setembro de 1884 e aos 45 anos foi servir como missionário entre os muçulmanos no sul das Filipinas. Nessa época, deu início à prática de permanecer na presença de Cristo. Foi um dos homens mais conhecidos do século XX. No ano em que recebeu o prêmio "Homem do Ano", disse humildemente: "O Senhor não quer contar meus troféus, mas minhas cicatrizes." Faleceu aos 85 anos, deixando mais de 50 livros e reconhecido como o maior educador de todos os tempos.

Laubach ficou conhecido, também, como “O Apóstolo dos Analfabetos”. Em 1935, enquanto trabalhava em um povoado remoto nas Filipinas, desenvolveu o programa de alfabetização “Cada um ensina um”. Esse programa foi usado para ensinar cerca de 60 milhões de pessoas a ler em sua própria língua. Além disso, ele era profundamente preocupado com a pobreza, a injustiça e o analfabetismo, os quais considerava barreiras para a paz mundial. Em 1955, fundou o Método Laubach de Alfabetização que já foi usado em mais de 34 países. Ele esteve no Brasil (em Pernambuco) em 1943, e acredita-se que tenha influenciado a visão e o trabalho do educador Paulo Freire.

Além de todo o envolvimento com a alfabetização, Laubach foi autor de inúmeras obras de literatura voltadas para devocionais cristãos, as quais refletiam sua experiência de vida. Uma das mais influentes obras devocionais foi o folheto intitulado “O Jogo dos Minutos”. Nele, Laubach estimulava os cristãos a tentarem conservar Deus em suas mentes, pelo menos, por um segundo de cada minuto do dia. No “Jogo dos Minutos”, assim, ele demonstrava os benefícios de uma vida constantemente focada em Deus. A inspiração de Laubach veio de sua experiência de oração, a qual está relatada em sua obra “Cartas de um Místico Moderno.”

Frases de F. Laubach...

“Uma prisão ou uma masmorra não faz diferença se estamos com Deus. Pregamos e reconhecemos isso como verdade, e é verdade, mas, palavra de honra, não vejo que muitas pessoas parecem ter tido esse tipo de experiência.”

“Será possível termos aquele contato com Deus o tempo inteiro? Durante o tempo todo em que estamos acordados, e depois dormir nos braços dEle, e novamente acordar na Sua presença? Somos capazes de alcançar isso? Somos capazes de fazer a vontade dEle o tempo todo? Somos capazes de pensar como Ele o tempo todo?...Será que sou capaz de trazer o Senhor à minha memória em pequenos intervalos, de tal maneira que Deus esteja no meu pensamento? Escolhi fazer do resto da minha vida uma experiência em resposta a esta questão.”

“Certa noite, eu estava sentado na colina Sinal, olhando por sobre a província que me havia abatido. Tip estava com o focinho debaixo do meu braço, tentando lamber as lágrimas que me escorriam pelo rosto. Meus lábios começaram a se mexer e me parecia que Deus estava falando. ‘Meu filho’, meus próprios lábios disseram, ‘você falhou porque você não ama de verdade esses mouros. Você se sente superior a eles porque é branco. Se esquecer que é americano e pensar apenas que eu os amo, eles atenderão’. Respondi de forma malcriada para o pôr-do-sol: ‘Deus, não sei se é você mesmo que está falando comigo por meio dos meus lábios, mas, se for, isso é verdade [...]. Tira-me do comando de mim mesmo e toma posse de mim e pense os teus pensamentos em minha mente...’ Meus lábios falaram comigo mais uma vez: ‘Se você quer que os mouros tenham isenção de espírito com sua religião, seja você assim com a deles também. Estude o Alcorão com eles’.” (Escrito nas Filipinas, no início do seu trabalho missionário)

domingo, 27 de junho de 2010

Filhinhos, amem-se uns aos outros

“O meu mandamento é este: amem-se uns aos outros como eu amo vocês.”
(João 15.9)

“Amados, amemos uns aos outros, pois o amor procede de Deus. Aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor.” (1João 4.7-8)

O bendito evangelista João, depois de permanecer em Éfeso até a mais avançada idade e mal poder ser levado para a igreja pelas mãos dos discípulos e não mais conseguir articular uma declaração com algumas palavras, costumava dizer de maneiras diferentes somente isto: “Filhinhos, amem-se uns aos outros”.

Por fim, os discípulos e irmãos presentes, cansados de ouvirem sempre a mesma coisa, disseram: “Mestre, por que dizeis sempre isto?” João deu uma resposta digna: “Porque esse foi o preceito do Senhor, e, se somente isso for observado, é o bastante”.

(Texto de Jerônimo, 345 DC)

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Pelo amor do meu amado

“Eu pertenço ao meu amado, e ele me deseja.” (Cantares 7.10 NVI)

“Nem as muitas águas conseguem apagar o amor; nem os rios conseguem levá-lo na correnteza. ” (Cantares 8.7 NVI)

O amor basta-se a si mesmo, em si e por sua causa encontra satisfação. É seu mérito, seu próprio prêmio. Além de si mesmo, o amor não exige motivo nem fruto. Seu fruto é o próprio ato de amar. Amo porque amo, amo para amar!
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Grande coisa é o amor, contanto que vá a seu Princípio, volte à sua Origem, mergulhe em sua Fonte, sempre beba donde corre sem cessar.

De todos os movimentos da alma, sentidos e afeições, o amor é o único com que pode a criatura, embora não condignamente, responder ao Criador e, por sua vez, dar-lhe outro tanto. Pois quando Deus ama não quer outra coisa senão ser amado, já que ama para ser amado; porque sabe que serão felizes pelo amor aqueles que o amarem.

O amor do Esposo, ou melhor, o Esposo-amor somente procura a resposta do amor e a fidelidade. Seja permitido à amada responder ao Amor! Por que a esposa - e esposa do Amor – não deveria amar? Por que não seria amado o Amor?

É justo que, renunciando a todos os outros sentimentos, única e totalmente se entregue ao amor, aquela que há de corresponder a ele, pagando amor com amor. Pois mesmo que se esgote toda no amor, que é isto diante da perene corrente do amor do outro?

Certamente não corre com igual abundância o caudal do amante e do Amor, da alma e do Verbo, da esposa e do Esposo, do Criador e da criatura; há entre eles mesma diferença que entre o sedento e a fonte.

E então? Desaparecerá por isto e se esvaziará de todo a promessa da desposada, o desejo que suspira, o ardor da que a ama, a confiança da que ousa, já que não pode de igual para igual correr com o gigante, rivalizar a doçura com o mel, a brandura com o cordeiro, a alvura com o lírio, a claridade com o sol, a caridade com aquele que é a caridade?

Não. Mesmo amando menos, por ser menor, se a criatura amar com tudo o que é, haverá de dar tudo. Por esta razão, amar assim é unir-se em matrimônio, porque não pode amar deste modo e ser menos amada, de sorte que no consenso dos dois haja íntegro e perfeito casamento. A não ser que alguém duvide ser amado primeiro e muito mais pelo Verbo.

São Bernardo de Claraval (1.090-1.153 DC)

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Sobre Santidade


A santidade tem sido entendida (e vivida) a partir de alguns princípios; talvez, a maioria deles sem conexão com o Evangelho.
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Alguns imaginam a santidade como uma oposição e um afastamento do "mundo", ou seja, não ter contato com coisas, lugares, músicas, pessoas, etc, que não são da "igreja"; outros imaginam santidade como um estilo de vida "angelical", uma fuga da vida real e concreta, negando qualquer sofrimento ou imperfeição, e, até mesmo, negando a própria humanidade.
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Para nós, discípulos, a santidade é o estilo de vida que Jesus aqui viveu. Ele não era contaminado por lugares impuros, pessoas impuras, músicas impuras; ao contrário, ele santificava e purificava relacionamentos e pessoas. Jesus podia conviver diariamente com os mais "sujos pecadores", participar de festas e jantares com ladrões e prostitutas, debater com os mais "santos" religiosos, e não se contaminava com absolutamente nada!
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O que nos contamina é o pecado que está em nossos desejos impuros; e estes desejos não estão fora de nós, mas em nossos corações. A maldade e a impureza que estão em nós (e que por nós é negado...) é o que realmente contamina nossas vidas: não são os lugares, pessoas, festas, músicas - somos nós!
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Por isso, santidade não é moralidade e nem religiosidade, mas um estilo de vida igual ao de Jesus Cristo. Como discípulos de Jesus, nosso desafio é o de vivermos em santidade assim como ele viveu. E somente como ele!
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terça-feira, 15 de junho de 2010

Paraíso Perdido



Paraíso Perdido
Jayme Caetano Braun

segunda-feira, 7 de junho de 2010

PRIORIDADES

Somos informados de que as conversas da maior parte dos americanos de classe média [e dos brasileiros também]* giram em torno do consumo: o que comprar, o que acabou de ser comprado, onde comer, o que comer, o valor da casa do vizinho, o que está em promoção esta semana, nossas roupas ou as de outra pessoa, o melhor carro do mercado este ano, onde passar as férias. Ao que tudo indica, não conseguimos parar de comer, de comprar ou de consumir. O sucesso não é medido levando-se em conta o amor, a sabedoria e a maturidade, mas segundo a quantidade de posses que alguém conseguiu acumular.

O que foi mesmo que o estudioso das Escrituras Ernst Kasemann disse? “O homem pode ser considerado amante da cruz apenas à medida que ela o capacita a aprender a se relacionar da maneira certa com [...] os poderes e as seduções do mundo.” O que pode haver de ultrajante no discípulo de Jesus é ele se dar ao luxo de ser indiferente. Morto para o mundo, mas vivo em Cristo de forma sublime, ele pode dizer com Paulo: “Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura.” Uma postura assim seria um anátema nos centros comerciais das nossas megalópoles. O mundo nos respeitará se o cortejarmos, e nos respeitará ainda mais se o rejeitarmos com desprezo e ira; mas nos odiará se simplesmente não atentarmos para as suas prioridades ou para o que ele pensa de nós. Há uma incompatibilidade radical entre respeito humano e a fé em Jesus Cristo.

Não acumulem para vocês tesouros na terra,
onde a traça e a ferrugem destroem,
e onde os ladrões arrombam e furtam.
(Mateus 6.19)


Brennan Manning - Extraído do Livro “Meditação para Maltrapilhos”.
* Adendo meu.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Ansiedade

Eu digo a vocês: não andem ansiosos pela vida... Não fiquem inquietos e perturbados por causa do dia de amanhã, pois o amanhã trará consigo seus próprios problemas e necessidades; o dia de hoje já é pesado o suficiente para que se antecipe as preocupações do amanhã.”
Jesus (Mt 6:25,34)

Todos nós vivemos a vida em três tempos: passado, presente e futuro. Por isso, em certo sentido, o nosso ser é formado pelo nosso eu-passado (quem eu fui), eu-presente (quem eu sou) e eu-futuro (quem eu idealizo que serei). Apesar de viver no presente, somos constantemente influenciados pelas sombras do passado e excitados pelas fantasias e preocupações do futuro. Daí nascem as raízes mais profundas da nossa infelicidade: a nossa incapacidade de ser e viver no presente sem precisar recorrer ao passado e ao futuro. Mas também, nasce dessa incapacidade de nos manter no presente, a nossa ansiedade.

A ansiedade, um dos mais terríveis sentimentos a assolar o coração humano, acontece quando o nosso eu-futuro cresce tanto ao ponto de anular o nosso eu-presente. Sendo assim, tudo quanto ainda não aconteceu ocupa toda minha atenção e canaliza toda minha energia. O meu interior é totalmente habitado por ocupações prévias, pré-ocupações, desencadeando uma adrenalina e uma tensão emocional capaz de roubar a paz, sonhos e a serenidade. A ansiedade mata o presente, faz adormecer o hoje, anestesia o agora e em troca, dá vida ao futuro, acorda o amanhã e centraliza-se no depois.

A ansiedade provoca em nossa vida uma reação emocional em cadeia muito perigosa! A ansiedade gera a necessidade de controlar. O controle gera um forte acúmulo de atividades. O ativismo gera uma tendência à manipulação. A manipulação conduz a tentar dar um jeito para que tudo saia do meu jeito. O resultado final, os elos últimos desta corrente, serão a frustração, o cansaço e o vazio!

Mas essa não é a proposta de Deus para as nossas vidas! Ele nos convida a viver a vida longe da ansiedade ("não andem ansiosos"); sugere que vivamos unicamente o dia de hoje, pois é ilusão tentar antecipar o amanhã, posto que o único tempo possível de ser vivido é o hoje. Além disso, o amanhã, quando chegar, será transformado no hoje (não fiquem, pois, inquietos!). Ainda: ele insiste que enfrentemos os muitos problemas e preocupações de hoje, pois o amanhã trará os seus.

Seguir essa proposta de Jesus é substituir aquela reação emocional em cadeia, por uma reação espiritual: a serenidade, o reverso da ansiedade, nos leva ao equilíbrio de fazer e se ocupar somente do que é possível. Este equilíbrio nos conduzirá a aceitar circunstâncias e pessoas, o que nos conduzirá a deliciosa descoberta de que nem tudo precisa ser do nosso jeito. O resultado final - os elos últimos desta corrente espiritual - serão a paz, o descanso e a presença viva de Jesus no nosso coração!

Pr. EDUARDO ROSA PEDREIRA

sexta-feira, 7 de maio de 2010

A dor nossa de cada dia


“Meus irmãos, considerem motivo de muita alegria o fato de passarem por diversas provações, pois vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança."
(Tiago 1:2)

As crises nos atingem das mais diferentes maneiras. São atrevidas. Invadem todos os lugares. Entram nas favelas, creches, condomínios fechados, grandes e pequenas igrejas. Agridem a qualquer pessoa: grandes empresários, desempregados, os iletrados, os que têm doutorado, os sem fé e até mesmo os cristãos fervorosos.

Escondidos em cada crise, estão propósitos e planos. Quando a crise nos ataca, ficamos sem rumo. Não poucas vezes achamos que Deus está nos castigando, ou que fomos abandonados por ele. Alguns se tornam mais rígidos, ranzinzas, pessimistas e ainda mais incrédulos e vingativos.

Deus não impediu que você e sua preciosa família fossem matriculados na escola da dor. Por quê? Porque um dos objetivos de Deus com o sofrimento é nos amadurecer. Muitas vezes, experimentamos crescimento em diversas áreas da vida, mas não estamos prontos o suficiente para sustentar o que conseguimos.

Na dor aprendemos verdades que não poderiam ser descobertas de nenhum outro modo. No sofrimento, aprendemos a não confiar em nós mesmos e a depender dos recursos de Deus. Contudo, as dores não nos amadurecem automaticamente. No tempo oportuno, porém, colheremos excelentes frutos.

Adaptado de www.pensamentododia.com.br

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Sobre o silêncio...

"Aquele que não pode estar sozinho, tome cuidado com a comunidade... Aquele que não está em comunidade, cuidado com o estar sozinho... Cada uma dessas situações tem, de si mesma, profundas ciladas e perigos. Quem desejar a comunhão sem solitude mergulha no vazio de palavras e sentimentos, e quem busca a solitude sem comunhão perece no abismo da vaidade, da auto-glorificação e do desespero." D. Bonhoeffer

Portanto, se desejarmos estar com os outros de modo significativo, devemos buscar o silêncio recriador da solitude. Se desejamos estar sozinhos em segurança, devemos buscar a companhia e a responsabilidade dos outros. Se desejamos viver uma vida plena como seguidores de Cristo, devemos cultivar a ambos.


terça-feira, 20 de abril de 2010

Deus está bordando!


Quando eu era pequeno, minha mãe costurava muito.
Eu me sentava no chão, brincando perto dela, e sempre lhe perguntava o que estava fazendo.

Ela respondia que estava bordando...

Todos os dias eram a mesma pergunta e a mesma resposta. Observava seu trabalho de uma posição abaixo de onde ela se encontrava sentada e repetia:

―Mãe, o que a senhora está fazendo?

Dizia-lhe que, de onde eu olhava, o que ela fazia me parecia muito estranho e confuso. Eram uns amontoados de nós e fios de cores diferentes, compridos, curtos, uns grossos e outros finos, eu não entendia nada.

Ela sorria, olhava para baixo e gentilmente me explicava:

―Filho saia um pouco para brincar e quando terminar meu trabalho eu chamo você, o coloco sentado em meu colo e deixo que veja o trabalho da minha posição.

Mas eu continuava a me perguntar lá de baixo:

―Por que ela usava alguns fios de cores escuras e outros claros? ―Por que me pareciam tão... desordenados e embaraçados? ―Por que estavam cheios de pontas e nós? ―Por que não tinham ainda uma forma definida? ―Por que demorava tanto para fazer aquilo?

Um dia, quando eu estava brincando no quintal, ela me chamou:

―Filho venha aqui e sente em meu colo.

Eu sentei no colo dela e me surpreendi ao ver o bordado. Não podia crer! Lá de baixo parecia tão confuso! E de cima vi uma paisagem maravilhosa!

Então, minha mãe disse:

―Filho, de baixo parecia confuso e desordenado porque você não via que na parte de cima havia um belo desenho. Mas, agora, olhando o bordado da minha posição, você sabe o que eu estava fazendo....

Muitas vezes, ao longo dos anos, tenho olhado para o céu e dito:

―Pai, o que estás fazendo?

Ele parece responder:

―Estou bordando a sua vida, filho.

E eu continuo perguntando:

―Mas está tudo tão confuso. Tudo em desordem. Há muitos nós, fatos ruins que não terminam e coisas boas que passam rápido. Os fios são tão escuros. Por que não são mais brilhantes?

O Pai parece me dizer:

―Meu filho, ocupe-se com seu trabalho descontraia-se, confie em Mim... e Eu farei o meu trabalho. Um dia, colocarei você em meu colo e então vai ver o plano da sua vida da minha posição.

Muitas vezes não entendemos o que está acontecendo em nossas vidas. As coisas são confusas, não se encaixam e parece que nada dá certo. É que estamos olhando o avesso da vida.

Do outro lado, Deus está bordando...

(Autor desconhecido)

sexta-feira, 9 de abril de 2010

O Escorpião e o Velho

Havia um velho que costumava meditar toda manhã bem cedo sob uma enorme árvore na margem do Ganges.

Certa manhã, depois de ter terminado sua meditação, o velho abriu os olhos e viu um escorpião flutuando sem defesa na água. Quando o escorpião se aproximou da árvore pela água, o homem depressa se estirou sobre uma das longas raízes que se espraiava rio adentro e estendeu a mão para resgatar o animal que se afogava. Logo que o tocou, o escorpião picou-o. Instintivamente, o homem recolheu a mão. Um instante mais tarde, depois de recuperar o equilíbrio, ele se estirou novamente sobre as raízes para salvar o escorpião. Desta vez o escorpião picou-o tão gravemente com sua cauda venenosa que a mão do homem ficou inchada e ensangüentada, e seu rosto contorcido de dor.


Naquele momento, um passante, vendo o velho estirado no chão a lutar com o escorpião, gritou:

― Ei, velho imbecil, o que há de errado com você? Só um idiota arriscaria a vida por uma criatura tão feia e maligna. Você não sabe que pode se matar tentando salvar esse escorpião ingrato?

O velho virou a cabeça. Olhando o estranho nos olhos, disse calmamente:

― Meu amigo, só porque é da natureza do escorpião picar, não muda minha natureza de salvar.

História de Henri Nouwen, recontada por B. Manning em “A Assinatura de Jesus”, pg. 127.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Oração e Comunidade


A oração modelo de Jesus Cristo, expresso no título “Pai-Nosso”, não é uma oração solitária, mas feita em comunidade. O contexto bíblico fundamental é a adoração. É por isso que o culto público parece ser o único contexto no qual podemos recuperar a profundidade do Evangelho. Isso significa que aprendemos a orar na comunidade, que aquilo que fazemos a sós é algo que extraímos da adoração da comunidade. Assim, a oração não cessa e tem formas alternativas quando você está sozinho, mas a perspectiva da coletividade vem primeiro. Infelizmente, a experiência dos cristãos inverteu a ordem. Na longa história da espiritualidade cristã, entretanto, a oração comunitária é mais importante e depois a individual.

Baseado em E. Peterson
- O Pastor Contemplantivo, pg. 17.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

domingo, 28 de março de 2010

A cruz de Cristo e a espiritualidade cristã


Tenho, nos últimos anos, refletido sobre a espiritualidade cristã. [...] E para manter o foco numa espiritualidade cristã e bíblica, é preciso reconhecer a centralidade da cruz. A cruz de Cristo foi única no sentido de que representou uma escolha, um caminho que Jesus decidiu trilhar: o caminho da obediência ao Pai. [...]

Podemos considerar que a cruz de Cristo começa a ser carregada no episódio da tentação. Ali, o diabo propõe um caminho para Jesus ser o Messias. Um caminho que representou uma forma tentadora de ser o Messias. Transformar pedras em pães, saltar do alto do templo e ser amparado por anjos, e receber a autoridade política e financeira sobre os reinos e as nações. Se Jesus aceitasse a oferta do diabo, rapidamente teria uma multidão de admiradores, de gente faminta encontrando pão nas ruas e estradas, encantada com seu poder sobre os anjos e os seres celestiais e com seu governo mundial estabelecendo as novas regras políticas e econômicas. Seria o caminho mais rápido para implantar seu reino entre os homens.

Porém, o caminho de Deus não era este. O reino que ele oferece precisa nascer primeiro dentro de cada um. As mudanças não acontecem de cima para baixo nem de fora para dentro. É um reino que vem como uma pequena semente e leva tempo para crescer. Não é imposto, é aceito. Não se estabelece pela força do poder, mas pelo coração e mente transformados. O rei deste reino não permanece assentado no seu trono, mas desce e se torna um servo.

A cruz de Jesus não significou apenas o sofrimento final do seu ministério público. Ela representou uma escolha que o acompanhou por toda a sua vida e que culminou em seu sofrimento e morte. Quando Jesus nos chama para segui-lo, ele afirma que, se não tomarmos nossa cruz, não será possível ser seu discípulo. A razão para isto é clara. Se o caminho dele é o caminho do servo obediente, o nosso não pode ser diferente. Por isto, precisamos tomar nossa cruz, e ela deve representar também nossa escolha, que é a mesma que ele fez - uma escolha pela renúncia e pela obediência ao Pai. [...] No caminho do mundo ser o maior e o melhor é o mais importante. No caminho de Jesus o melhor é ser o menor e o servo de todos.

Podemos achar que o caminho de Cristo é muito difícil, que amar os inimigos, orar pelos caluniadores, ser manso num mundo competitivo, humilde numa sociedade ambiciosa, não é só difícil, mas impossível. Concordo, por isto o chamado é para tomar a cruz. A cruz significa renúncia, sofrimento e morte.

As opções estão diante de nós diariamente. Todos os dias somos levados ao monte da tentação. Todos os dias o diabo nos oferece suas ofertas e seu caminho, e Deus, pela sua palavra, nos revela seu caminho. Todos os dias temos de fazer nossas escolhas. Tomar nossa cruz é aceitar o caminho de Cristo, e neste caminho experimentamos uma espiritualidade verdadeira.


Pr. Ricardo Barbosa